segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

tá legal, eu aceito o argumento

bom, a personagem se chama marilinda lopes de vega
ela é de uma cidadezinha do interior

vive sonhando em ser famosa, global e tals
um dia chega uma cara rico, dono de uma rede de cabarés
e propões ela ir pra são paulo ser a "mulher dele"
ela chora, ri, esperneia, briga com a mãe e vai

passa quatro anos na cidade grande
cheira, fuma, fode, viaja, luxo, riqueza

(cena bizarra)

marilinda caminha vestida de branca de neve, caminha pelo lixão, meio dançando, desvairada, encontra um bande cachorro louco e seus mendigos de estimação. mas ninguém vê a marilinda. ela está invisível.

daí um belo dia, ela se entedia total
faz a malinha e vem pra floripae vai trabalhar numa floricultura de vendedora
aqui ela já tem 24 anos
mas no fundo ela é uma grande romântica que sonha em ter uma casinha branca com jardim
encontrar um marido que a ame e respeite e encha de filhos

junto com esse desejo, não deixa nunca de existir aquele outro sonho da infância, de ficar rica e famosa

corta

parte dois da história

em floripa tem um bando de doido, desempregado, artista, maluco, junkie, gênio, enfim
o underground da cidade,
a nata do lixo
que vive pelas noites da cidade
procurando um osso pra roer
uma orelha pra cheirar
todos eles são sobreviventes
e portanto com muitos talentos para seduzir e aplicar pequenos golpes que garantam a próxima dose

essa força misteriosa vai reunindo esse povo,
um dia num bar, outro dia em uma after, eventualmente num bandeijão de 1 real
ou numa exposição de arte com boca livre
essas coisas

chega um belo dia que a bela adormecida encontra os 7 anões
e ela diz pra eles
meus queridos anõezinhos, eu tenho um sonho
eu quero participar do big brother brasil 9
os anões cheiraram que tinha ouro nessa caverna
e resolvem fazer o tal filme pra apresentar branca de neve ao brasil

ela ganha o bbb e todos são felizes para sempre.

domingo, 17 de agosto de 2008

como era gostoso o meu cinema



tava lendo um blog doido aí, uma defesa sincera da pornochanchada. e o cara terminou com o seguinte argumento: espero que os produtores de filmes nacionais sensibilizem-se com este desabafo e, já que estão fazendo filmes com nosso dinheiro mesmo, atendam o gosto do povão que gosta de fandango, charque e mulher. eu gostei. achei sincero. ácido, claro, mas sincero. e ele usa outros argumentos interessantes, como: Faz muito tempo que eu reclamo que no "moderno" cinema brasileiro está faltando mulher pelada. Ora, na década de 70 tínhamos na telona as maiores vagabund..., digo, deusas nacionais se arreganhando para caras como Paulo Cesar Pereio e Nuno Leal Maia. Qualquer filminho trazia Vera Fischer, Sônia Braga, Carla Camurati, Lucélia Santos mostrando a racha e levando no rabo com gosto. E, ao mesmo tempo, elas batiam ponto na Grobo. daí liguei o canal brasil e tava dando um filme da Lúcia Veríssimo dando pro John Herbert. daí eu fiquei numa sessão nostalgia que acabou no espancamento do palhaço, a bronha, como se dizia aqui na ilha. então resolvi escrever um pouco sobre isso. e recomendar pros que tem de 40 pra cima, matar a saudade das jovens tardes adolescentes assistindo o canal brasil no começo da madrugada. também, acompanhando nosso amigo do blog 1 milhão de helicópteros, que voltemos a ter gostosas globais tirando a roupa no cinema e dando gostoso pro primeiro canastrão que apareça. ah, pra saber mais do filme é só clicar aqui. só me restou uma dúvida, que essa meninada de hoje não entende muito bem... será que proibido é mais gostoso? alguém disse uma vez no muro: saudade do sarney e da gonorréia. triste.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Segundo o site: http://www.artenaescola.org.br/pesquise_artigos_texto.php?id_m=38

Etimologicamente, estereotipia vem do grego “stereós”, que quer dizer: firme, compacto, imóvel, constante e de “typos” que significa: sinal, molde, representação. Já a palavra clichê vem do verbo francês “clicher” e quer dizer “coar matéria derretida” (em geral chumbo ou cobre) sobre a matriz de uma página composta, o que resultava em uma placa sólida, o clichê, do qual se podia imprimir grande número de exemplares. Clicher queria então dizer: estereotipar, produzir um estereótipo.

Acabo de assistir ao filme Araguaya - Conspiração do Silêncio. Filme que busca resgatar uma guerrilha ocorrida na selva amazônica no começo dos anos 70, plena ditadura militar.

Tenho assistido com muito interesse, filmes que tratem do tema: Lamarca, Que é isso companheiro?, Batismo de Sangue, O ano em que meus pais sairam de férias e outros que agora me fogem.

De todos estes, esse me parece o mais esquemático. Mas também há que se pensar no arrefecimento das opiniões da época. Não havia espaço para nuances. Então talvez o filme siga esse caminho. Mas toda vez que um dos lados é retratado como mal absoluto, como apenas: violento, burro, feio e monstruoso, a mim fica faltando algum pedaço.

Não se trata aqui de defender a ditadura e seus quetais (ai, que agora me meto num vespeiro). Longe disso. Muito mais me seduz o ideário revolucionário popular. Mas nesse filme fica até um pouco constrangedor a maneira óbvia que tudo é tratado. Confesso que a cópia que assisti não tinha legendas para o francês do Padre Chico. Talvez suas reflexões fossem o contra ponto que dessem um pouco mais de profundidade ao que ali se desenrolava.

Quando aqui o diretor se posiciona em favor dos guerrilheiros, faz de forma radicalmente panfletária. E aos olhos dos mais jovens, que não acompanharam o desenrolar daqueles tempos, pode levar a uma compreensão estilo velho oeste de filme americano. Só faltou o beijo da mocinha com o padre. Mas isso já é outro filme. E outro clichê.

Tenho notícias de uma onda de filmes: argentinos, uruguaios e chilenos que vem na mesma direção de crítica aos regimes autoritários que grassavam na américa latina. Assisti a um deles: Machuca. Interessante, mas essa fórmula de mostrar a guerra (ou uma situação semelhante), sob os olhos de um menino, me fez pensar no italiano A vida é bela. E numa cena final até ao Sociedade dos poetas mortos.

Enfim, não gostei.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007


As mãos de Edith

Eu me considerava meio órfão ou viúvo, de duas mulheres. A perda delas me aconteceu em épocas diferentes. Hoje eu descobri uma terceira, que deu sentido a tudo. Elas são: Elis Regina, Cássia Eller e à partir de hoje, a maravilhosa Edith Piaf.
Isso porque vi o filme que conta sua história. Certas coisas soam piegas. Óbvias. Mas a mulher realmente era sensacional. Num dado momento, ela saindo de uma pobreza total, num bar, perguntaram se ela estava rica, cantando. Ela rindo, já meio bebum, disse: é por amor à arte. E era.
Mas aí tem uma questão, que me fizeram outro dia: só se faz boa arte na tristeza? Eu creio que não, mas essa vem carregada de um peso realmente diferenciado. De uma entrega mais absurda e intensa. Fica impregnada do impossível. Da transubstanciação, do milagre. Da lei da superação, do que há de divino em tudo o que é humano. E olha que eu acredito que foi o homem que criou deus.
E o último elo da corrente. O filme acaba com Edith cantando Non, je ne regrete rian.
Gravada no último grande trabalho de Cássia, o disco acústico MTV. Eu quase chorei.
Bom pra ver abraçadinho com seu amor.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Entrevista com Glauber Rocha



Pergunta: Creio que isso é muito evidente n’A Idade da Terra: o prazer de filmar do cineasta. O que me conduz a uma pergunta: de que modo é que esse prazer do cineasta pode pôr em causa o prazer do próprio espectador?

Glauber
: O problema do espectador na obra de arte é um problema que eu não considero, digo-lhe isso com a maior sinceridade. Porque eu acredito que a obra de arte é um produto da loucura, no sentido em que fala o Fernando Pessoa, que fala o Erasmo, quer dizer, a loucura como a lucidez, a libertação do inconsciente. É por isso que eu não me considero um cineasta profissional, porque se o fosse teria que atuar segundo o ritual da indústria cinematográfica. Considero-me um amador, como o Buñuel, alguém que ama o cinema...

Pergunta: ...mas que não ama necessariamente os seus espectadores?

Glauber: Não é que não ama os espectadores, é que procura mostrar ao espectador o máximo possível do que se está a passar dentro dele. Naquele momento, não pode ter nenhuma censura. Então, o diálogo com o espectador é o diálogo da paixão humana, é um problema de sedução ou de guerra. Há uma disposição de se mostrar nu sem culpa.Aceito críticas ao meu cinema de toda a ordem – formal, artística, estilística, etc. – mas eu sei, sinceramente, humildemente, que meu cinema pode estar cheio de todos os defeitos, mas sei que não é um cinema reacionário, que não é um cinema antiprogressista, que não é um cinema anti-revolucionário. É um cinema muito identificado com as necessidades transformadoras.Então, digo sempre: quero conquistar o público, mas não quero explorar o público. Depois, a minha prática cinematográfica permitiu-me, até hoje, sobreviver fazendo os filmes que faço. Quer dizer, o sujeito tem a cara dos filmes que faz, como se diz “tem a cara da vida que leva”. Então prefiro um diálogo com o público a níveis não convencionais, porque os filmes não estão dentro de um aparato convencional. Não lhe posso responder de uma forma diferente, porque seria uma forma pretensiosa.A forma de meu cinema, com todos os altos e baixos, com todos os pontos brilhantes e obscuros, com tudo o que tem de feio e de bonito, é a expressão da minha personalidade. Então, assumo meu ego, mas não de um ponto de vista narcisista ou individualista, mas de um ponto de vista órfico, no sentido de não tentar mudar o mundo, mas, como Orfeu, tentar criar um novo mundo audiovisual. Se eu criei condições históricas e econômicas para produzir um tipo de filme segundo a minha pulsão (que é a única forma de sobreviver) tenho que assumir os riscos da incompreensão – isso para mim faz parte do jogo dramático da cultura.

Pergunta: Um filme sem pé nem cabeça. Essa é uma das críticas que se faz a seu filme. Afinal, o que é “A Idade da Terra”?
Glauber: Uma obra de arte não se explica. Um poema você lê e sente. Um quadro você vê. Filme que se explica é filme que tem história para contar. Seria cabotino eu tentar explicar o filme, se ele é colocado como um corpo novo, um objeto não identificado. Trata-se de novas visões, captações até metafísicas que marcam uma revolução na minha obra. Do filme “Di Cavalcanti” para cá, rompi com o cinema tetaral e ficcional que fiz de “Barravento” até “Claro”.“A Idade da Terra” é a desintegração da seqüência narrativa sem a perda do discurso infra-estrutural que vai materializar os signos mais representativos do Terceiro Mundo, ou seja: o imperialismo, as forças negras, os índios massacrados, o catolicismo popular, o militarismo revolucionário, o terrorismo urbano, a prostituição da alta burguesia, a rebelião da mulheres, as prostitutas que se transforma em santas, as santas em revolucionárias. Tudo isso está no filme dentro do grande cenário da História do Brasil e das três principais capitais, Bahia, Brasília e Rio. Trata-se de um filme que joga no futuro do Brasil, por meio da arte nova, com se fosse Villa-Lobos, Portinari, Di Cavalcanti e Picasso. O filme oferece uma sinfonia de sons e imagens ou uma anti-sinfonia que coloca os problemas fundamentais de fundo. A colocação do filme é uma só: é o meu retrato junto ao retrato do Brasil.

Do lindo site: http://www.interzona.spatum.net/